domingo, 8 de julho de 2007

Crônica Inédita

ilustração: Altamir Soares
O Coronel, o Empoçado e o Serra da Onça

Conto aqui no blog o Caso de uma partida de futebol que mora no imaginário do povo do distrito de Cataguarino, um aprazível lugar, distante mais ou menos quinze quilômetros de Cataguases, Minas Gerais. Essa história me foi contada por um amigo, conhecido por Chicão Lomeu, que não estava no jogo, mas dela tomou conhecimento através de seu irmão, hoje com 94 anos.
Corria quente o “Clássico” entre o Empoçado(nome de Cataguarino, na época) e o Serra da Onça, no então distrito vizinho de Guidoval, na década de 30 do século passado. Partida empatada, um a um, e o juiz comete o despautério de marcar uma penalidade, na entrada da grande área, contra o time da casa, o Serra da Onça. Faltavam menos de dois minutos para o fim do embate. Empurra daqui, discute dali, foi-não-foi pênalti, bate-não-bate e os torcedores do Serra da Onça resolvem buscar ajuda do Coronel Reverenciano, que estava ali só para marcar presença, sem nada entender da arte da bola.- Coronel, num pode deixar bater que nóis perde o jogo! Confusão ainda formada no centro do gramado e o juiz inflexível na sua marcação. O Coronel, num instante de solidariedade com os Seus, ordena o bandeirinha que convoque o juiz à beira do gramado para uma conversa. Este, imediatamente, corre até o árbitro e transmite o recado, da forma que entendeu:
- Óia, o Coronel tá querendo falá concê. Faz o que ele mandá, senão nóis não sai vivo daqui! O juiz vai até o coronel e os dois, observados pelos agitados torcedores do Serra da Onça, travam o seguinte diálogo:
-O senhor marcou um pênalti contra nóis, a turma tá dizendo que num foi...
-Coronel, o beque do seu time derrubou o atacante perto da linha da área, do lado de dentro!
- Tão dizendo aqui que num foi nada, num foi pênalti, não!
- Foi dentro...
(Foi fora, foi fora ! grita a turma em coro)
-Foi dentro da área. Agora eu já marquei, o jogo tá parado e tem que ser cobrado...
O Coronel pensou por alguns segundos. Para não desmoralizar o juiz e, ao mesmo tempo, atender aos seus mandados, decidiu:
- Muito bem, o senhor vai mandá batê o pênalti, mas lá no outro gol! Acabou a conversa!
Depois do tiro-pra-cima do Coronel Reverenciano, que foi precedido de muito empurra-empurra entre jogadores, juiz, torcedores, bandeirinhas e capangas, a penalidade foi cobrada pelo atacante do Empoçado, contra o seu próprio goleiro. Chicão me contou que ainda houve um Acordo-mineiro entre o Coronel e os dois times, no seguinte sentido: o jogador bateria o pênalti, mas jogaria a bola pra fora. Assim, a saída seria honrosa, com o empate da partida. No entanto, por incrível que possa parecer, o atacante não conseguiu errar na cobrança e botou a redonda pra dentro do gol. Sem saída, o juiz mandou registrar na súmula: “Gol contra de pênalti.” Encerramento do jogo, dois a um pro time da casa, o Serra da Onça.