sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Ilha do Horizonte

(No próximo mês de abril eu vou estar lançando um novo livro que vai se chamar Ilha do Horizonte. O Zeca Junqueira leu os originais e cometeu a gentileza de escrever essa belíssima matéria sobre o trabalho. Compartilho contigo. Um abraço.Pequeno)

Como um menino

Extra! Extra! Extra! Vem aí o novo livro do craque Vanderlei Pequeno: Ilha do Horizonte. Mais uma vez vamos mergulhar num universo de simplicidade e graça, e por que não?, de lágrimas para os mais saudosistas; mas anotem aí, lágrimas das boas, daquelas que lavam e refrescam a alma.
Eu li os originais do livro, que me conduziram numa espécie de caminho de volta pra casa, varando o tempo e o esquecimento, até àquela rua mineira da minha infância, até hoje rua do esperto do Vanderlei Pequeno.
Conheci as duas Marias e a Luísa da sua crônica, elas também povoaram a minha meninice. E como não podia deixar de ser, eu fazia parada obrigatória na Papelaria Real, e como o Vanderlei Pequeno, ficava por lá ouvindo os discos mais novos das paradas de sucesso, tirando uma casquinha do som, enquanto conversava com o Bastião, que num carnaval daqueles, muito doido e animado, mas já sem dinheiro, trocou uma camisa do flamengo que vestia como fantasia por uma última pinga na Taberna do Embalo. E lá se foi sambando pela Praça Rui Barbosa.
Quanto ao Cine Machado, meu Deus!, tão bem retratado na sua crônica “Nas matinês do cinema do Nelo”, o que dizer sobre ele? Ainda há tempo para um filme qualquer de amor ou de aventura, para um beijo na namorada com trilha sonora (quem sabe Tema de Lara), ainda há algum ingresso sobrando para nós ou alguém disposto a negociar conosco uma entrada meio atrasada para uma última sessão de cinema? Não, não há, que pena, a censura velada desse mundo coisificado nos bloqueou de vez.
Mas sai fora, xô!, nada de tristeza que Vanderlei Pequeno não é disso! Brincando com nossa emoção, ele escreve como um menino, sem medo da simplicidade, do riso fácil, da gargalhada solta. As suas palavras não estão “abandonadas, escorregando pelas paredes, soltas no inferno, esquecidas, caindo na noite”, como as de sofridos poetas: elas estão soltas e nos levam pela mão para a luz do dia, para os campos de futebol, para as matinês, para os quintais (quando ainda os havia), elas nos levam para o lúdico. Ah!, Vanderlei, quem me dera que a sua fosse também a minha escrita, que sejam minhas as suas palavras, que mesmo quando falam sobre perda, como a morte de sua mãe, acabam desembocando mesmo é na vida: “minha mãe, dona Conceição, que, por coincidência (?), está sepultada em jazigo situado em frente ao de sua terna Comadre e amiga. Enfim, vizinhas para sempre”.
Ilha do Horizonte forma uma trilogia com 50 Causos do Futebol e Casos e Acasos, livros que guardo em minha estante junto aos que me são mais caros. A Casa da Rua Alferes e Outras Crônicas, que ele divide com os bambas Zé Antônio Pereira, Toquinho e Zé Vecchi, também está lá, todos a postos, como antídotos contra a adultice. De vez em quando constato: outrora, em algum lugar, a vida correu solta enquanto retumbavam hinos. Já abri espaço lá para o novo livro do Vanderlei Pequeno.
Meu caro Pequeno, já se vai tempo, nós nos conhecemos há quase 50 anos. Então eu te peço: continue brincando com as letras como os meninos brincam com a bola, continue nos lembrando que escrever não é sinônimo de sofrer, como muitos acreditam, continue a nos chamar em voz alta à nossa porta (lembra-se?) como você fazia quando era criança nos convocando para as brincadeiras. Prometo que eu continuo atendendo ao seu chamado.
Te devo uma por esse novo livro, que aguardo com dedicatória e tudo.
Um grande abraço, escritor.

Zeca Junqueira, Rio, 14/02/2008