terça-feira, 15 de junho de 2010

Um Poema - Fernando Abritta







Canto zero

No meio do vale
uma árvore


beirando a estrada
cercada
de capim
braquiária invasora
a árvore
resiste

umárvore
sentinela plantada
cavalgando ventos
barrando águas
tempestades
florindo
frutificando
semeando

No meio do vale
umárvore
guerreira avançada

ao fundo
nas grotas
nas dobras dos morros
muitas outras
apertadas
disputando sol e solo
contidas
por
arame farpado foices e fogo
esperam
olhando o vale
os bois
a erva invasora
cobiçando


Umárvore
parada plantada
enraizada
insiste na florada
cada fruto uma arma
sementes soldados
: largar raízes
teimando tentando dementes insistentes


No meio do vale
umárvore
r existe.

Poema tema do livro umÁrvore a ser lançado pela Lei Murilo Mendes – lei de incentivo a cultura do município de Juiz de Fora, em setembro de 2010.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Um Poema - Emanuel Medeiros ( * )


HIROSHIMA



Na manhã dominical,
a bomba de Hiroshima,
a bomba,
tão clara,
exata,
cirúrgica.

Bomba geométrica,
certeira.

A bomba vem do céu,
mas não é ave.

A bomba vem de cima,
mas não é Deus.

Desce fumegante,
a bomba não negocia,
a bomba não conversa,
célere, impositiva,
acerta o alvo, cai,
a bomba queima, a bomba dissolve,
a bomba dilacera.

Alguém nasce no ano em que ela cai,
e pensa naquele 1945:
a surpresa daqueles milhares de olhos,
à espera do lúdico no matinal domingo,
parques, igrejas, passeios, visitas familiares,
percebendo – sem tempo para a reflexão –
a chegada da não-ave,
emissária de Tanatos,
que cai, cai,
na paisagem limpa (cogumelos atômicos).

(* ) Poeta Catarinense morando, atualmente, na Bahia. Autor de vários livros, entre eles "Olhos Azuis - Ao sul do Efêmero". Contato metonia55@hotmail.com

terça-feira, 1 de junho de 2010

Um poema - Emerson Teixeira Cardoso


Estância nº 1

Bastou a indecisão de uma vírgula
para que se perdesse o elo entre as palavras,
e aí, por séculos e séculos,
só se ouviu o tique-taque nervoso de meu relógio.