domingo, 4 de maio de 2008

Espaço Aberto para Emanuel Medeiros

(Abrimos espaço para o poeta Emanuel Medeiros. O homem é de Florianópolis, mas morou por 10 anos em Porto Alegre, onde fundou cine-clubes e grêmios literários no antigo secundário e na universidade - UFRGS- Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Participou ativamente da luta política no Movimento Estudantil Universitário. Amargou a passagem pelo " inferno na Oban e no Dops". Mas não se dobrou. Hoje, continua seu trabalho em favor da vida e tenta conhecer um pouco do coração do homem. Considera-se um "Mascate Cultural". Ao poema!Pequeno)

DESTERRO *
Desterro cumpriu-me
e cumpriu-se.

O rio começava atrás de casa
(como eu),
e foi embora – afluentes.
Vento sul, Campo do Manejo, Rita
Maria, Rio da Avenida, Miramar,
bala queimada, Catecipes, Praia do Muller,
procissão do Senhor Morto, Cine Rox,
gibis, Grupo Escolar Dias Velho,
Chico Barriga D’Água, paixão camuflada pela menina
da Rua de Cima – ela nunca soube.)
Só enuncio: acumulo – sobrecarregado.

O rio foi embora.
Casa demolida, mãe na soleira da porta, pitanga no
quintal, regata na Baía Sul, matracas, turíbulos, trapiche da
Praia de Fora, gaita-de-boca, groselha, tainha frita,
fogão de lenha, beliches, pé de amora.

Perdeu-se o rio: não sei do seu delta.
Perdi-me: tiro certeiro na gaivota.
A rua pequena, era a maior do mundo – coração.

Desterro inunda-me:
outrora/agora.

* Nome antigo de Florianópolis-SC