segunda-feira, 6 de julho de 2009

Sobre a lei 001/2009

Empilhamento de gente

Zeca Junqueira

Muito oportuna a nota oficial da Comissão Executiva Municipal do PT de Cataguases alertando sobre as mudanças propostas - 17 artigos - pelo vereador Eduardo Schelb (PSC) para o Plano Diretor da cidade que estão para ser votadas na Câmara. É preciso entender que mudar, nesse caso, pode significar deformar; e irremediavelmente.
Na poligonal que demarca a área de tombamento histórico do Centro de Cataguases só se pode erguer prédios, como certamente pretendem as construtoras, com a chancela do IPHAN, cujo poder de arbitragem o projeto de Schelb quer diminuir. Mesmo assim, dada a seriedade do que pode vir por aí, vale afirmar que nem mesmo ao IPHAN (ou à Prefeitura) deve caber a última palavra sobre o assunto. É a população, principalmente a que mora no Centro, que precisa bater o martelo. As cidades devem ser projetadas em função do bem-estar de seus habitantes e não o contrário. Portanto, somos nós que moramos nessa área da Cataguases que devemos deter, em última análise, a soberania da decisão.
A pergunta a ser feita ao (s) vereador (es) que apóia (m) o projeto e às construtoras que querem levá-lo à cabo é esta: exatamente em quê o Centro da cidade se beneficia com a construção de prédios de apartamentos em seu perímetro? Verticalizar Cataguases é bom pra quem? Essas construções gerariam empregos? Sub-empregos temporários, numa relação custo / benefício prejudicial à coletividade.
A resposta final é simples e não requer qualquer respaldo técnico para ser fundamentada: quem fatura são apenas as construtoras. Portanto, o que temos é especulação imobiliária.
Explico mais: todo crescimento vertical é falso, é inchaço, só se pode expandir de fato expandindo-se a base, logo, horizontalmente. Se começarmos a colocar caixas no chão de uma sala, por exemplo, em determinado momento não teremos mais espaço para acomodá-las. Mas, se quisermos continuar botando caixas, vamos passar a empilhá-las umas sobre as outras. Mais adiante, se quisermos tirar tudo o que se encontra dentro dessas caixas e colocar no chão da sala, não vai caber. Vamos precisar de mais espaço, mais chão. Trocando para a verticalização do Centro da cidade, é a mesma coisa. Vamos ter empilhamento de gente, mais carros e motos nas ruas (que já temos demais), mais esgoto, mais aparelhos de ar condicionado soltando gases poluentes, em resumo, teremos um forte impacto ambiental concentrado, uma vez que a base permanecerá do mesmo tamanho.
Desta forma, considerando-se que Cataguases já apresenta problemas graves na área habitacional, com gente morando em morros favelizados e em prédios (olha a especulação imobiliária!) construídos até dentro do Rio Pomba, pergunto: por que essas construtoras não acenam com proposta de construir casas populares, aproveitando os grandes espaços ociosos na periferia da cidade? Não topam, é lógico, porque isso não dá dinheiro.
Defronte ao local onde moro, à Rua Alferes Henriques de Azevedo, há um terreno vazio e ao lado vê-se tristemente os escombros da casa onde morou a família Carneiro, a “Casa da Rua Alferes” de nossos líricos cronistas. Dizem que nessa área subirão dois prédios. Nós, moradores locais, ganharemos o quê com isso? Melhor seria a Prefeitura recuperar a velha casa, transformando-a num centro cultural, com oficinas de arte, como já foi proposto, e ao lado, no outro terreno, construir uma bela quadra de footsal para a molecada pobre das imediações praticar esporte. Não seria mais indicado, essa não seria uma opção mais cidadã, portanto, mais progressista?
Certamente, nossos vereadores precisam abrir a discussão dessas construções no Centro da cidade para a população, convocando-a ao debate, ouvindo arquitetos, urbanistas e especialistas em meio ambiente. Se não procederem assim, estarão correndo sério risco de desfigurarem a cidade com um equivocado sim que poderá deixar uma marca indelével em seus mandatos e lhes ser cobrado implacavelmente por gerações futuras.
A hora é de reflexão. Não vamos maltratar Cataguases por dinheiro.