quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Todos vivos, vivíssimos


Arre! Estava eu ainda costurando algumas palavras para dedicar ao amigo Agenor Ladeira, por conta do seu meio século de existência, vida, música e abundância – de quê, hein? - , quando recebo, como uma flechada no fígado, a notícia da morte do nosso Edinho da Guitarra.

Pedi aos meninos que fossem ao sepultamento em Visconde do Rio Branco e dei de andar daqui pra lá, de lá pra cá, buscando aplacar a minha inquietação. Começo a refletir: não faz muito tempo, partiu o Miltinho Canavan, cabra que destilava poesia, sem nunca ter escrito uma só palavra; agora toma o trecho rumo à essência outro poeta que também não era escritor, mas deixava fluir pelos dedos e boca dissonâncias, música, muita música. Encantar as pessoas era o ofício dos dois. Existia missão mais nobre? Por que perdemos tanto?

Constrangido, peço ajuda ao amigo e baterista Olney Figueiredo que, a partir de seu blog, me acode:

“Edinho, Edson Gonçalves, Natural de Ponte Nova, desde cedo, se interessou pela música, começando como baterista em pequenos grupos de sua cidade. Foi contemporâneo do violonista/cantor/compositor João Bosco, com quem "trocou figurinhas" no aprendizado do violão.

Conheci-o quando ele tocava guitarra num conjunto de bailes de Visconde do Rio Branco e, em meados dos anos 70 veio, a meu convite, integrar o Conjunto Spala, de Cataguases. Nossa vida e nosso gosto musical caminharam juntos em vários momentos.

Atualmente, Edinho vinha desenvolvendo um bom trabalho no Instituto Francisca de Souza Peixoto, dirigindo uma pequena orquestra, dando aulas de violão, organizando eventos culturais, além de continuar tocando e cantando em festas, recepções e em "barzinhos" em toda a região."
Corridos os dias, ganho algum alento e volto a esse texto. Isso ocorreu depois que me encontrei com o Dudu Viana, - o primogênito - e o Tiago Pé – o outro filho. Este me presenteou com seu tímido sorriso pelas ruas de Cataguases. Tiago, como o da Bíblia, crê nos desígnios de Deus. Não estive com a Carol e a Sônia, mas espero que a música as esteja acompanhando.

Já meu diálogo com o Dudu Viana se deu através da escuta atenta de seu excelente disco instrumental “De Passagem”. Entre as maravilhas do CD, está a faixa seis, “Samba da Noiva”, que, imagino, tenha sido composta para os músicos - esses malandros! - dialogarem sobre a beleza da moça e o seu futuro feliz nos braços de outro malandro. Fernando Drumond abre a conversa com seu lastimoso trombone:

- Nunca mais vamos ter essa mulher! Duda contrapõe de escaleta e discursa sobre a esperança:
- Nem tudo está perdido, tenha calma, ela um dia volta. Fernando volta à carga, ainda um tanto chorão, mas como quem vê alguma luz:
- Pode ser, sigamos por aqui vivendo de ilusão. Dudu Lima, a partir de seu patético contrabaixo, enche o nosso copo com uma boa dose de notas em improviso para que bebamos a dor e nos encharquemos do sentimento de perda:

-Tô sofrendo muito, tô sofrendo muito, tô sofrendo muito! Mas, no meio do caminho, em vez de uma pedra, aparece Edson Gonçalves, o nosso Edinho, empunhando com sabedoria a sua amiga guitarra:
- Coragem, assumam seus destinos! Nossa tarefa é embalar o sonho dos outros. O que nos conforta é que temos a poesia ao nosso lado. E poesia é essência. Essência é Deus!

A canção segue dolente e ao final os músicos assinam a obra com breves solos, ainda em improviso. Na verdade, ajudam a construir uma pauta que vai ficar sempre na ordem do dia, como arte.

E depois da obra composta continuam todos vivos, vivíssimos!