terça-feira, 8 de junho de 2010

Um Poema - Emanuel Medeiros ( * )


HIROSHIMA



Na manhã dominical,
a bomba de Hiroshima,
a bomba,
tão clara,
exata,
cirúrgica.

Bomba geométrica,
certeira.

A bomba vem do céu,
mas não é ave.

A bomba vem de cima,
mas não é Deus.

Desce fumegante,
a bomba não negocia,
a bomba não conversa,
célere, impositiva,
acerta o alvo, cai,
a bomba queima, a bomba dissolve,
a bomba dilacera.

Alguém nasce no ano em que ela cai,
e pensa naquele 1945:
a surpresa daqueles milhares de olhos,
à espera do lúdico no matinal domingo,
parques, igrejas, passeios, visitas familiares,
percebendo – sem tempo para a reflexão –
a chegada da não-ave,
emissária de Tanatos,
que cai, cai,
na paisagem limpa (cogumelos atômicos).

(* ) Poeta Catarinense morando, atualmente, na Bahia. Autor de vários livros, entre eles "Olhos Azuis - Ao sul do Efêmero". Contato metonia55@hotmail.com

Um comentário:

  1. Grande Emanuel Medeiros Vieira... saudade dos tempos de "Pensaminto".
    Belíssimo poema.
    Grande abraço.
    Idalina

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