quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Um minuto de silêncio - Manoel Hygino dos Santos


(Publicado no Hoje em Dia, de 01.12.2008)

Quando Tolstói inventou aquela história de que, para ser universal, compete inicialmente conhecer sua aldeia, tinha seguramente razão e competência para a afirmação. Primeiro conhecer o umbigo, a gente mesmo, o próprio corpo, para avançar em seguida pelos campos mais amplos. Vanderlei Pequeno, de Cataguases, seguiu à risca o conselho, e prova que foi feliz em seu projeto literário, mais uma vez, ao publicar “Ilha do Horizonte”, pela Editora Cataletras de uma cidade que tem gloriosas tradições e autores prestigiosos no ofício das artes, de um modo geral.
O livro contém crônicas, e “cronos” significa tempo. Os textos são de um tempo para todo um tempo, de um lugar no mapa do Brasil para todos os lugares do país continental. Apresenta uma série de narrativas interessantes, ora cômicas, ora graves e trágicas, ora líricas e sentimentais. Em todas as nuances se dá bem, o que haveria de prever com os livros anteriores de sua lavra. Dos episódios comuns registrados em uma sociedade nasce a universalidade aludida pelo grande escritor russo. De sua aldeia, não tão pequena como as da antiga Rússia dos czares, Vanderlei extrai personagens e histórias que são dos seres humanos, como um todo, e que dão o tom
de singela grandeza dos fatos descritos.
Não sem razão, o nosso culto Ronaldo Cagiano, da mesma cidade e ora instalado em algum lugar de São Paulo, comenta que, antenado com a atmosfera municipal, Vanderlei Pequeno oferece ao leitor mais uma obra de alto nível. São 28 escritos que se lê sem precisar recorrer ao dicionário, o que propicia maior satisfação. É o acontecimento cotidiano, relatado com a linguagem do homem comum,
nesta nação de milhões de comuns. Como o futebol é o esporte favorito da maioria dos brasileiros, Vanderlei Pequeno recorre a contos dessa área, e o faz com consciência profissional de escritor e de torcedor. Ele recorda com graça o José Português, que se esquivando ao balcão, que parece o trabalho preferencial do luso que chega ao Brasil, decidiu dedicar-se ao rádio. Foi o José Português desempenhar-se como repórter de campo em emissora de uma cidade interiorana. Da margem das quatro linhas demarcatórias do gramado, informava a escalação, trio de arbitragem, substituições de jogadores durante a partida, e coisas tais, que perfeitamente se conhece. Terminado o embate, o novo profissional foi cumprimentado pela atuação, pela isenção com que se comportara, pela tranqüilidade na transmissão, enfim por todas as virtudes reveladas. Não terminava, porém, tão belamente a primeira incursão do repórter luso. Chega, então, a infausta notícia de que a esposa do diretor de um dos clubes falecera. Os jogadores se postaram, em forma, para homenagear a defunta, descrito pelo repórter de modo muito especial: - Queridos ouvintes, neste momento, estamos cá no campo de futebol, a ouvir “Um Minuto de Silêncio”.

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